Entrevista Exclusiva com Jerle Peixoto - Voluntariado e Solidariedade
Como o empréstimo de materiais hospitalares vem transformando vidas em Alegre.

O Alegrense conversou com Jerle Peixoto, voluntário e idealizador de um projeto que empresta gratuitamente cadeiras de rodas, camas hospitalares, muletas e outros equipamentos de uso médico para pessoas em situação de vulnerabilidade em Alegre. A iniciativa, que começou a partir de uma necessidade familiar, cresceu e hoje beneficia dezenas de famílias com apoio do Instituto Acervo.
O Alegrense: Jerle, como surgiu esse projeto de empréstimo de materiais hospitalares?
Jerle Peixoto: Tudo começou por necessidade dentro da minha própria casa. Meu pai teve um AVC e precisou de uma cama hospitalar e de uma cadeira de rodas. Conseguimos emprestar inicialmente, e depois compramos equipamentos melhores para garantir conforto a ele e facilitar os cuidados que minha mãe prestava. Após o falecimento dele, minha mãe decidiu que não iria vender nem guardar os equipamentos, mas emprestar para quem precisasse. Com esse gesto, nasceu o projeto, que hoje segue com nosso apoio e com a parceria do Instituto Acervo.
O Alegrense: Como funciona esse sistema de empréstimos?
Jerle: De forma totalmente gratuita. A pessoa interessada entra em contato conosco, preenche um cadastro com nome, CPF, endereço, referência e telefone. Entregamos o equipamento com a orientação de que ele deve ser bem cuidado e devolvido quando não for mais necessário. O grande desafio é que nem todos devolvem ou cuidam como deveriam. Já buscamos cadeiras jogadas no barro, expostas à chuva, e até passadas adiante sem autorização. Isso é muito triste, porque acaba prejudicando quem está na fila de espera.
O Alegrense: Quantos equipamentos estão em circulação atualmente?
Jerle: Hoje temos mais de 20 cadeiras de rodas emprestadas, três camas hospitalares, além de cadeiras de banho e muletas. Recentemente, com a ajuda do Instituto Acervo, conseguimos adquirir dez novas cadeiras. A demanda é muito alta. Teve um momento em que recebi cinco pedidos de cadeiras de banho em um mês e não tinha nenhuma disponível.
O Alegrense: Como é feita a manutenção desses equipamentos?
Jerle: Tudo é feito de forma voluntária. Quando os equipamentos retornam, nós limpamos, higienizamos, engraxamos. Se precisar, contamos com parceiros que nos ajudam com pintura e pequenos reparos. As cadeiras, por exemplo, são muito utilizadas no banho e com produtos químicos, o que acelera a corrosão. Às vezes elas voltam danificadas e precisam de uma reforma antes de serem emprestadas novamente.
O Alegrense: Existe um prazo máximo para devolução?
Jerle: Não estabelecemos prazo máximo. Sabemos que, geralmente, quem precisa desses equipamentos está atravessando uma situação delicada de saúde, muitas vezes irreversível. Então, o equipamento pode ficar com a família o tempo que for necessário. Pedimos apenas que, ao final do uso, ele seja devolvido em boas condições para que possa ajudar outras pessoas.
O Alegrense: E como a comunidade pode colaborar com esse projeto?
Jerle: A principal forma é através de doações, tanto de equipamentos quanto de recursos financeiros. O Instituto Acervo é nosso parceiro e pode receber essas doações de maneira formal, com CNPJ. Além disso, após o falecimento de um ente querido, muitas famílias optam por doar os equipamentos para que não fiquem parados em casa, o que é um gesto de amor e solidariedade.
O Alegrense: Quem deseja pedir um equipamento ou fazer uma doação, como deve proceder?
Jerle: Pode procurar diretamente o Instituto Acervo, que tem toda a estrutura para atender essas demandas, ou falar comigo pessoalmente. Se tivermos o equipamento disponível, é um prazer emprestar. É um trabalho voluntário que me completa muito.
O Alegrense: Toda a sua família participa dessa ação?
Jerle: Hoje, mais diretamente, sou eu quem realiza a parte de atendimento e logística. Mas tudo começou com minha mãe e meu pai. Eles foram a inspiração para esse trabalho, que continua como um legado de cuidado e generosidade.
O Alegrense: Que mensagem você gostaria de deixar para a comunidade?
Jerle: Que seja solidária. Que cuide do que recebe e entenda que esse gesto de amor pode mudar a vida de alguém. E, principalmente, que cada um faça a sua parte. Um gesto pequeno pode gerar um impacto enorme.
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