Seja bem-vindo
Alegre,30/04/2025

  • A +
  • A -

MARCOS CÂNDIDO MENDONÇA

Carta ao Coronel “Tatão”

HISTÓRIAS DO ALEGRE E REGIÃO


Carta ao Coronel “Tatão”

O período da Primeira República ou República Velha se estendeu de 1889 a 1930. Constituiu a primeira experiência republicana no Brasil, após a deposição do imperador D. Pedro II. Embora a constituição republicana de 1891 tenha garantido um conjunto de direitos civis, muitos deles ficaram apenas no papel.

Naquela época vigorava o poder dos coronéis que reproduziam no novo sistema político o velho mandonismo e proveito particular do aparelho de governo. Os coronéis, em linhas muitos gerais, eram latifundiários, comerciantes ou comandantes militares que exerciam o poder local, cuja as alianças com outros coronéis estruturavam uma facção política, reunindo desde os líderes locais (coronéis do município) até os chefes estaduais ou nacionais. E Alegre também possuiu os seus coronéis.Um deles foi o coronel Sebastião Monteiro da Gama, que dá nome a uma das ruas da cidade.

Uma carta de Jerônimo de Souza Monteiro, governador do Espírito Santo entre 1908 e 1912, enviada em 31 de março de 1920, endereçada ao “caríssimo Tatão” (Sebastião Monteiro da Gama), ilustra muito bem como se desenvolvia as alianças no tempo do coronelismo. Posto isso, vale a pena nos atermos a alguns trechos dessa carta, que foi transcrita no livro do Prof. Dr. João Gualberto*:

“Tenho sua carta última. [...] Verifico ainda mais uma vez que você faz a figura da escravatura antiga, diante de seus respectivos senhores. Não conhece a força de que dispõe. [...]. Li que Vanderley, amparado pelo Dulcino, querem impor a você novos vereadores, que não foram eleitos. Não ceda de modo nenhum. Não faça a apuração aí, mande-a para o Congresso, como é seu projeto. Qualquer ameaça que aí lhe façam, você arme compadres e resista à mão armada. Não consista que abusem de você – chefe de prestígio, respeitável, leal e bom, como poucos. [...] Se precisar de um capanga e mais quatro companheiros, diga e seguirei eu, com os meus três filhos e um sobrinho para defender você, de armas nas mãos. Não se deixe apavorar pelos arreganhos de um Vanderley ou mesmo do Dulcino. Afinal o que poderão fazer? Pegar em armas? Pois, nós também pegaremos e será o que elas derem. [...]. Jerônimo Monteiro.”

Como podemos observar, o nosso coronel Sebastião, lembrado na carta como “Tatão”, foi aliado de Jerônimo Monteiro. Na carta Jerônimo advertia ao correligionário para que não fraquejasse diante as ameaças dos inimigos Dulcino Pinheiro e Henrique Augusto Wanderley. Para lidar com a situação, Jerônimo ainda oferecia ao amigo ajuda armada!

Eram os tempos das velhas práticas de mandonismo e violência política que coexistiam no seio do novo sistema político. Na República Velha, o novo (o republicanismo) e o velho (o mandonismo) se encontraram, marcando um quadro antagônico da evolução social brasileira em que a modernização institucional se manteve aliada a velha conduta dos poderosos.


Marcos Cândido Mendonça é doutor e mestre em Geografia pela Ufes. Autor do livro “O vale do Itabapoana: perspectiva e trajetórias familiares da história do sul capixaba (1820-1960)”. Administrador da página do @arquivoguacui no Instagram.

*João Gualberto Vasconcellos. A invenção do coronel, 1995



COMENTÁRIOS

LEIA TAMBÉM

Buscar

Alterar Local

Anuncie Aqui

Escolha abaixo onde deseja anunciar.

Efetue o Login

Recuperar Senha

Baixe o Nosso Aplicativo!

Tenha todas as novidades na palma da sua mão.