MARCOS CÂNDIDO MENDONÇA
A Força e Luz Alegre-Veado: dos lampiões a luz elétrica (Parte I)
Em 7 de setembro de 1920 foram inauguradas a iluminação elétrica de Alegre e a do distrito de Guaçuí (antigo Veado) pela recém criada Força e Luz Alegre-Veado S/A.

Todos nós estamos habituados ao uso da iluminação por energia elétrica. Todavia, por aqui nem sempre foi assim. Deixando de lado a história da energia e iluminação elétrica pelo mundo, para contar um pouco da história da iluminação elétrica em Alegre e Veado, descobrimos uma história de empreendedorismo, conflito e ameaças.
A história começa em dezembro de 1901, com a criação do serviço de iluminação pública da vila de Alegre, constituído por apenas doze lampiões a querosene, que foi executado por iniciativa de Geraldo de Azevedo Vianna (político nascido em Guaçuí).
Em junho de 1913, a firma Chequer Tannure e Cia. foi autorizada a instalar a iluminação elétrica em Alegre, mas não cumpriu o contrato. Desse modo, em dezembro de 1917, por meio de novo contrato, ficaram autorizados João Baptista Rosa e Francisco Teixeira de Oliveira a instalarem o serviço, mas que também não foi executado pelos concessionários.
Assim, somente em 7 de setembro de 1920 foram inauguradas a iluminação elétrica de Alegre e a do distrito de Guaçuí (antigo Veado) pela recém criada Força e Luz Alegre-Veado S/A. A firma concessionária tinha como acionista majoritário e presidente João Celestino de Almeida. A empresa havia contratado o engenheiro mineiro Trajano Machado da Cruz, que também era um dos principais sócios (e futuro presidente da empresa), para supervisionar as obras e exploração do serviço.
A Força e Luz Alegre-Veado contava com uma usina hidrelétrica nas cachoeiras do rio Alegre. No ano de instalação do serviço, a capacidade geradora do empreendimento era de apenas 300 KW de potência, o que indicava sensíveis limites para o abastecimento. Em virtude desse limite técnico para geração de energia da Força e Luz, eram corriqueiras as queixas por falta de abastecimento em Alegre e Veado.
A população de Veado (atual Guaçuí) era a mais crítica a situação por acreditar que as constantes faltas de abastecimento eram devido a sabotagem dos alegrenses. Os guaçuienses, sem considerar o fato dos limites técnicos da empresa, acreditavam que os alegrenses utilizavam do fornecimento de energia elétrica para prejudicar o desenvolvimento do município de Guaçuí, que foi distrito de Alegre até dezembro de 1928.
Uma praxe lembrada por populares é que, sempre no dia anterior ao vencimento da conta, a luz piscava três vezes, lembrando aos consumidores o dia do pagamento. Essa prática (ou “truque” da firma) era uma fórmula para “educar” o consumidor, numa época que o pagamento por tal serviço era algo relativamente novo para a população local. Situação que, para o caso dos guaçuienses, contribuía ainda mais para acalorar os ânimos contra a Força e Luz.
Foi assim que teve início a história da iluminação pública em Alegre. Uma história inicialmente marcada pela iniciativa privada quando os governos (estadual e municipal) não tinham ainda condições de garantir o serviço. O caráter empreendedor do serviço também não negava seus limites técnicos e de investimento, com todos os riscos característicos desse tipo de empreendimento naquela época.
No próximo capítulo dessa história quase esquecida, veremos as tentativas de ampliação do fornecimento da Força e Luz Alegre-Veado, que foi acompanhada do acirramento das críticas da elite guacuiense contra a empresa, até a encampação final da Força e Luz pelo governo estadual. História essa marcada por muitos conflitos e intrigas!
Marcos Cândido Mendonça é doutor e mestre em Geografia pela Ufes. É autor do livro “História da construção de Guaçuí: aspectos da formação urbana no vale do Itabapoana capixaba (1920-1960)”. Dedica-se ao estudo da produção do espaço e geografia histórica do Espírito Santo. (Adquira o livro pela página @arquivoguacui no Instagram).
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