MARIELA PITANGA RAMOS
Prática Interprofissional e Trabalho em Equipe: Uma Necessidade no Contexto da Saúde
Refletir sobre a prática interprofissional e o trabalho em equipe é um passo indispensável para transformar a atenção à saúde, promovendo um sistema mais eficiente, colaborativo e centrado na pessoa.

A prática interprofissional colaborativa tem se destacado como uma abordagem essencial na área da saúde. Essa estratégia promove a integração entre os diversos profissionais que compõem as equipes de saúde, com o objetivo de oferecer cuidados centrados na pessoa e atender às múltiplas demandas de maneira mais resolutiva.
Superar a fragmentação entre profissionais de diferentes categorias é um dos grandes desafios no cuidado em saúde. Conceitos como interdisciplinaridade, multiprofissionalidade, interprofissionalidade e intersetorialidade ajudam a compreender e estruturar essa integração. Enquanto a interdisciplinaridade aborda a integração entre áreas do conhecimento, a interprofissionalidade enfatiza a articulação entre as práticas profissionais. Já a intersetorialidade destaca a colaboração entre setores distintos, como educação e habitação, para um cuidado mais amplo.
Trabalho em Equipe e comunicação interprofissional
O trabalho em equipe é essencial diante da crescente complexidade do cuidado em saúde. Mudanças demográficas, como o envelhecimento populacional, e o predomínio de doenças crônicas exigem organizações baseadas em equipes. Peduzzi (2001) classifica essas equipes em dois tipos principais:
1. Equipe Integração: caracteriza-se pela comunicação intrínseca ao trabalho, um projeto assistencial comum, divisão flexível de tarefas e autonomia técnica interdependente. Essa configuração promove a articulação de ações e a integração entre os membros, potencializando a eficácia do cuidado.
2. Equipe Agrupamento: Apresenta uma comunicação predominantemente externa ao trabalho, justaposição de ações e autonomia técnica que pode ser plena ou ausente. Nesse modelo, a colaboração entre os integrantes é mais limitada, o que pode impactar a coordenação do cuidado.
Além disso, Agreli, da Silva e Andrade (2021) enfatizam que uma comunicação interprofissional efetiva e assertiva é fundamental para o sucesso do trabalho em equipe. Essa abordagem não apenas contribui para a prevenção de erros na assistência em saúde, mas também promove melhorias significativas na qualidade do cuidado oferecido aos pacientes.
Educação Interprofissional como Pilar Transformador
A Educação Interprofissional (EIP) surge como uma ferramenta fundamental para promover a prática colaborativa. A EIP visa transformar a formação profissional, incentivando a integração entre diferentes áreas do conhecimento. Batista (2012) enfatiza que a EIP oferece oportunidades de treinamento conjunto, fomentando aprendizados compartilhados e desenvolvendo competências colaborativas, como:
• Clareza de Papéis: Compreensão clara das funções de cada profissional.
• Comunicação Interprofissional: Colaboração responsável e responsiva.
• Funcionamento da Equipe: Compreensão das dinâmicas de equipe e dos processos grupais.
• Resolução de Conflitos: Gestão eficaz de divergências.
• Liderança Colaborativa: Trabalho conjunto para planejar e avaliar cuidados e serviços.
As competências colaborativas representam conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que qualificam profissionais ou estudantes para o efetivo trabalho em equipe. Essas competências melhoram as relações interpessoais e interprofissionais para o exercício do trabalho em saúde, resgatando o seu caráter eminentemente coletivo.
A prática interprofissional e o trabalho em equipe transcendem a dimensão operacional, configurando-se como estratégias essenciais para um cuidado mais resolutivo e humanizado. Investir na integração profissional e na EIP é fundamental para superar a fragmentação e atender às demandas complexas da saúde contemporânea.
Entender essas fundamentações é essencial para fortalecer o debate e aprimorar a qualidade dos serviços de saúde ofertados à população e assegurar que a saúde seja um direito de todos.
Mariela Pitanga Ramos - Fonoaudióloga, Doutora em Saúde Coletiva e Pesquisadora no campo da Comunicação e Saúde.
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