Como eu disse, há poucos dias, na primeira parte destas reflexões, meu desejo é tão somente fazer uma catequese, ou explanação bíblica, sobre a Eucaristia, que é o ponto central das celebrações litúrgicas da Igreja Católica. Não vai aqui, repito, nenhuma intenção proselitista, mas, sim, dar subsídios bíblicos a todos, no sentido de que possam participar frutuosamente do ritual eucarístico da Missa, tirando o máximo proveito possível deste que é um Mistério da Fé, o Pão da vida eterna e o Cálice da salvação, Mistério este que jamais pode ser entendido somente com os predicados da razão, sem o devido ato de Fé no Filho de Deus que disse: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia; pois a minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue verdadeira bebida" (João 6, 54-55). O mesmo Jesus Cristo que disse isto, também ordenou aos discípulos na noite véspera de sua morte na cruz por nós, enquanto celebrava a última Ceia com eles, o Senhor disse também: "Desejei muito comer convosco esta páscoa, antes que padeça. Porque vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus. E tomou o cálice, deu graças, e disse: Tomai-o e reparti-o entre vós. Porque vos digo que já não beberei do fruto da videira, até que venha o reino de Deus. E tomou o pão, deu graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo que por vós é dado. Fazei isto em minha memória. De modo semelhante, ao fim da ceia, tomou o cálice, e disse: Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vós" (Lucas 22, 15-20).

Eis o que a Eucaristia é para nós, por desejo e vontade do próprio Jesus, que veio realizar a obra de salvar a humanidade, e estava prestes a fazer isto na cruz do Calvário, e quis ficar conosco para sempre, nas espécies eucarísticas do pão e do vinho, que se tornam o alimento da vida eterna.

Ao dizer: "este cálice é o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vós", Jesus Cristo insere este ato no contexto da Aliança de Deus com a humanidade, cujo mediador foi Moisés, no Monte Senai, quando recebeu de Deus as instruções que deveria passar para o povo, cujo resume são os Dez Mandamentos. Isto se chama Antiga Aliança, e foi feita por Deus com o povo, através de Moises.

Jesus alude a esta Aliança, dizendo que agora, no Pão e no Vinho da Eucaristia, firmamos com Deus uma Nova Aliança, ou, como ele disse, "este cálice é o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vós".

E, ao mandar-nos repetir isto, dizendo: "fazei isto em minha memória", o Senhor nos deu a garantia de que estaria presente naquele Pão e naquele Cálice, até que se cumpra e venha o reino de Deus. "Isto é o meu corpo, que por vós é dado... Este é o cálice do meu sangue, que por vós é derramado".

Ao mandar-nos fazer isto em sua memória, Jesus garantiu-nos estar realmente presente no Pão e no Vinho, antecipação do ato de entrega na cruz, que faria no dia seguinte: "Isto é o meu corpo que por vós é dado... Este é o cálice do meu sangue, que por vós é derramado". Portanto, o Pão e o Vinho da Eucaristia, é realmente o Corpo e o Sangue do Senhor, que seria partido e derramado na cruz, no dia seguinte. Do mesmo modo como o Senhor foi partido na cruz, e o seu sangue derramado, de modo real e verdadeiro, culminando com sua morte, ele quis antecipar no Pão e no Vinho da Eucaristia, o que aconteceria com ele na cruz do Calvário, no dia seguinte (Mt 26, 17-29; Mc 14, 12-25; Lc 22, 7-22; 1 Cor 11, 23-29).

Portanto, a Eucaristia é a realidade do Corpo e Sangue que o Senhor derramou na cruz, e não simples aparência.

Os apóstolos e todos os cristãos primitivos entenderam, quando disse "fazei isto em minha memória", sua intenção foi ficar realmente presente no meio do seu povo, não aparentemente. Por isso, conforme os relatos bíblicos, a Igreja primitiva, obediente a essa ordem de Jesus, "partia o pão pelas casas" (Atos 2, 46), uma alusão clara a esse Mistério eucarístico da presença do Senhor junto ao povo, por quem ele deu a vida na cruz, e ressuscitou dos mortos, porque ele é Deus.

Seguiremos com o assunto na próxima reflexão, quando irei abordar o texto bíblico de 1 Cor 11, 23-29, onde o apóstolo são Paulo fala desta realidade e não aparência.

Até a próxima, se Deus quiser.

Paulo Jorge Lúcio, padre casado.