Sem cunho proselitista, aproveito este espaço para fazer um breve resumo sobre a Celebração Eucarística, também conhecida pelo nome de Missa, o ponto central das celebrações litúrgicas da Igreja Católica. Um objeto da fé, portanto. Minha intenção é, a partir dos textos bíblicos, fazer que isto seja entendido, na fé, parte por parte, como forma de todos poderem participar frutuosamente de tudo. 

Neste ato, por desejo expresso de Jesus, atualiza-se para todos, em todos os tempos, o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, que, na noite véspera de sua morte na Cruz, reuniu-se com os discípulos para uma Ceia de despedida, na qual, usando pão e vinho, deu-se a si mesmo como alimento, conforme ficou registrado na Bíblia sagrada (cf. Lucas 22, 14-20).

A Eucaristia do Senhor, por ser a celebração central da fé católica, e por tratar-se de um mistério da fé, como todos os mistérios da fé, por exemplo, a Santíssima Trindade e a Encarnação do Verbo eterno de Deus, em hipótese alguma pode ser entendida apenas com as faculdades intelectuais, sem o auxílio da fé. Nenhum mistério da fé pode ser compreendido apenas com as faculdades da razão humana.

Eis o motivo porque insisto em pedir que nos deixemos conduzir pelo Espírito Santo de Deus, e o amor infinito de Jesus por nós, deixando que ele próprio nos fale e nos mostre, através da Escritura sagrada, as Palavras relacionadas com este mistério da fé. Algo que, repito, é tão grandiosamente acima da capacidade de nossas mentes compreender, que somente pode ser aceito na fé.

Lembrando sempre que a fé não é irracional, nem contradiz a razão, porém, está acima da razão porque é a força de Deus em nós, que nos conecta diretamente com o nosso Criador e Pai. A melhor e mais perfeita definição de fé encontramos na Carta aos Hebreus 11, 1: "A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a garantia das coisas que não vemos". Diante do mistério da Eucaristia, e de nossa total incapacidade de compreendê-lo, só nos cabe ajoelhar-mo-nos perante esse dom inefável do amor infinito de Jesus Cristo por nós, o qual, sem deixar de ser Deus, quis estar realmente presente no pão e no vinho como alimento descido do Céu para dar vida ao mundo Nesta primeira reflexão irei tomar como base fundamental de nossa fé o texto do Evangelho de João 6, 48-51, onde o Senhor fala dele próprio, de seu corpo e sangue como alimento que dá vida ao mundo.

Nossa inteligência humana, finita e cheia de limitações, em nenhuma hipótese seria capaz de compreender tudo o que o Senhor fez naquela Ceia eucarística derradeira, em que se despedia dos seus discípulos, antes de sua Paixão, Morte e Ressurreição. 

Nenhum de nós, nenhuma mente humana, por mais brilhante que seja, jamais conseguiria entender como Jesus, o Verbo de Deus feito homem, Senhor e Criador de todas as coisas, pode estar presente no Pão e Vinho da Eucaristia, conforme ele quis ficar. Ninguém pode compreender esse dom inefável de Deus, sem o imprescindível auxílio da fé, com a ajuda do Espírito Santo. Peçamos a Deus que nos ensine a caminhar guiados pelo seu Espírito... 

Vamos começar nossa caminhada, como disse, pelo capítulo 6 do Evangelho segundo João, conhecendo pela Palavra o que o próprio Jesus afirmou sobre este mistério da fé:

"Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que quem dele comer não morra. Eu sou o pão vivo que desceu do céu, se alguém comer deste pão viverá para sempre. E o pão que eu hei de dar é a minha carne, que darei para a vida do mundo".

Os judeus não entenderam nada, e discutiam entre si, dizendo: "Como ele pode nos dar de comer a sua carne?". Então Jesus lhes disse: "Em verdade vos digo, que se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeiramente comida, e o meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, assim quem de mim se alimenta também viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu, não como vossos pais que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá eternamente".

Jesus disse estas coisas ensinando na sinagoga, em Cafarnaum. E muitos dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: "Esse discurso é duro, quem o pode ouvir?". 

Jesus sabendo que os seus discípulos murmuravam acerca disso, disse: "Isto vos escandaliza? O que será, então, quando vires o Filho do homem subir para onde estava antes? O espírito é que vivifica, a carne para nada aproveita. As palavras que vos disse são espírito e vida. Mas há alguns de vós que não creem". Jesus bem sabia quais eram os que não criam e quem o entregaria. Por isso disse: "Ninguém pode vir a mim, se meu Pai não o atrair". E desde então muitos dos seus discípulos voltaram atrás e não o seguiam mais. Então Jesus disse aos Doze: "Vós também quereis retirar-vos?". Simão Pedro respondeu: "Senhor, a quem iremos nós? Tu tens palavras de vida eterna, e nós cremos e conhecemos que tu és o Cristo, o Filho de Deus" (João 6, 48-69). 

Quando dizemos que a Eucaristia é um mistério da fé, em outras palavras estamos afirmando que somente à luz da fé pode ser aceita e assimilada, embora nunca compreendida apenas com as faculdades da razão humana. Por isso, muito apropriadamente, é chamada de mistério da fé.

Nas próximas reflexões seguiremos com o assunto, trazendo aqui outros textos bíblicos que fundamentam esta fé cristã-católica. Até lá, se Deus quiser.

Paulo Jorge Lúcio, padre casado.